Professor ouviu de assessor que ele teria que raspar a barba e esconder tatuagem para lecionar — Foto: Arquivo pessoal
Após ser lotado para a escola militar Tiradentes, em Barra do Garças (MT) ouviu de um assessor pedagógico, diante de todos que estavam no local, que, para lecionar teria que passar por uma ‘readequação’.
Por G1 MT
De acordo com o professor, durante o processo de atribuição de aulas, ele e outros educadores faziam a contagem de pontos, pela qual seria definida a unidade de ensino que ele poderia lecionar durante este ano letivo.
Após ser lotado para a escola militar Tiradentes, ouviu de um assessor pedagógico, diante de todos seus colegas que estavam no local, que, para lecionar naquela unidade de ensino, teria que passar por uma ‘readequação’: raspar a barba, não usar mais o brinco que usa em uma das orelhas e esconder suas tatuagens fazendo uso contínuo de camisas com mangas longas.
O G1 entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação e aguarda um posicionamento sobre o caso.
A situação causou indignação no profissional.
“Não estudei e nem prestei concurso para ser policial militar. Sou um educador. É um espaço civil onde, inclusive, se aprende o respeito às pessoas que optam por usar barba, tatuagem, brinco. O respeito pela diversidade. Só que não permitem que a diversidade entre para dentro dessa escola”, relata o professor.
Ele também conta que não soube como reagir na hora.
“A escola é um lugar que precisa resguardar a pluralidade e diversidade dos indivíduos, e acima de tudo, lugar onde prevaleça a democracia. Ouvir que eu não poderia ter a minha identidade respeitada, na frente de todos, me deixou totalmente sem reação”, conta o educador.
No vídeo gravado pelo professor, Gibran explica que não houve edital diferenciado para essa escola, que é cívico-militar. Dessa forma, não houve exigências diferentes do edital de todas as outras escolas para as quais ele se candidatou.
“Ela simplesmente foi para o quadro geral de atribuição”, afirma.
O Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), emitiu uma nota de repúdio ao ocorrido.
“Tal atitude desrespeita a dignidade humana e demonstra a intolerância que acomete a nossa sociedade. Intolerância que está sendo propagada para dentro das nossas unidades escolares por meio da entrega da gestão das nossas escolas públicas para as forças de segurança”, diz trecho.
O Sintep também manifestou repúdio à política de militarização de escolas públicas em Mato Grosso intensificada a partir de 2020, com a implementação das escolas cívico-militares.
“Reafirmamos a defesa do sindicato, pela escola pública como espaço universal do exercício democrático de diálogo, pautada por relações horizontais, organização livre dos estudantes, que acolhe e valoriza as marcas éticas, estéticas e identitárias de raça-etnia, cultura, território, gênero e sexualidade”, conclui o sindicato.