Chuck Schummer, líder da maioria democrata no Senado dos EUA, no 1º dia do julgamento do impeachment de Donald Trump, em 9 de fevereiro de 2021 — Foto: TV Senado dos EUA/Reprodução
Ex-presidente é acusado de incitar à violência no episódio que culminou com a invasão do Capitólio em janeiro. Aprovação do impeachment parece improvável pela composição da casa, mas Trump corre o risco de perder direitos políticos.
Por G1
O julgamento do segundo impeachment de Donald Trump no Senado americano começou nesta terça-feira (9). Ele é o único presidente na história dos Estados Unidos a ter sido condenado duas vezes pela Câmara.
Os senadores deram início ao processo com a discussão das regras do julgamento, que são negociadas entre o líder da maioria democrata, Chuck Schummer, e o líder republicano Mitch McConell.
O deputado democrata Jamie Raskin, um dos principais promotores do pedido de impeachment, apresentou a acusação contra o presidente Trump. Segundo ele, o 45º presidente dos EUA é responsável direto pelo que chamou de “exceção de janeiro”.
Trump é acusado de incitar à violência que resultou na invasão ao Capitólio, a sede do Congresso, em 6 de janeiro. Raskin apresentou, em sua argumentação, um vídeo de mais de 5 minutos com trechos do discurso inflamado de Trump e das ações violentas de grupos de apoiadores do republicano.
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O deputado democrata Jamie Raskin, um dos principais promotores do pedido de impeachment de Donald Trump, em 9 de fevereiro de 2021 — Foto: TV Senado dos EUA/Reprodução
“Se me perguntarem o que é um crime de alta contravenção, segundo a nossa Constituição, eu digo que isso é um grande crime de alta contravenção”, disse Raskin. “Se isso não é uma crime passível de impeachment, então não existe nada que pode ser.”
Agora, apesar do mandato de Trump já ter sido concluído, os senadores, caso decidam condená-lo, podem optar por retirar seus direitos políticos, o que impediria que ele volte a se candidatar no futuro. Advogados do republicano defendem que Trump não pode ser condenado por já ter deixado o cargo.
O congressista Joe Neguse, o mais jovem promotor de um impeachment presidencial na história dos EUA, argumentou que o julgamento de Trump é constitucional e que os pais fundadores do país nunca citaram, na Constituição americana, que ex-presidentes não poderiam ser processados.
A previsão é de que o atual julgamento seja mais rápido que o primeiro, que se arrastou por três semanas. Em 2020, Trump enfrentou seu primeiro processo de impeachment quando a Câmara o condenou por obstrução ao Congresso e abuso de poder, mas acabou inocentado pelo Senado.
Nesta terça, os promotores do impeachment – oito ao todo – começaram a exposição oral de seus argumentos. Essa etapa pode durar até três dias.
Em um documento de 80 páginas, divulgado no dia 2, eles pedem a condenação de Trump e afirmam que ele cometeu uma “traição sem precedentes históricos” ao incentivar seus apoiadores com um discurso, pouco antes de eles invadirem o Capitólio, em um episódio que terminou com cinco mortes.
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A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, exibe documento do segundo impeachment de Trump — Foto: Reuters/Leah Millis TPX
No mesmo dia, a equipe de defesa emitiu um documento com 14 páginas, invocando o “direito de expressão” do ex-presidente.
Os advogados de Trump irão se pronunciar oralmente quando os acusadores terminarem sua exposição. Dependendo de quando isso acontecer, poderá haver uma sessão no sábado, dia 13 de fevereiro.
A defesa terá um tempo similar ao da acusação para apresentar seus argumentos.
Perguntas e testemunhas
Na sequência virá a fase das perguntas, que serão encaminhadas pelos senadores que servirão como jurados. Elas serão feitas por escrito e entregues ao senador Patrick Leahy, que preside o julgamento e irá distribuí-las entre acusadores e defensores.
A estimativa é de que essa etapa seja realizada entre os dias 15 e 16 de fevereiro.
Desta vez o Partido Democrata, que agora detém a maioria, ainda não sinalizou se irá pedir alguma convocação. A única pessoa convidada até agora – o próprio ex-presidente – recusou o chamado.
Em um comunicado divulgado na quinta-feira (4), os advogados de Trump chamaram o convite de uma “manobra de relações públicas”. “O presidente não irá testemunhar em um processo inconstitucional”, disse à agência Reuters o conselheiro de Trump Jason Miller.
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Senador Patrick Leahy, presidente do processo de impeachment de Donald Trump, conduz o juramento dos senadores que atuarão como jurados, em foto de 26 de janeiro — Foto: Senate Television via AP
Votação
Por fim, acontece a votação em si, na qual os senadores decidem se Trump é culpado. Para que isso aconteça, são necessários dois terços dos votos (67), um cenário considerado difícil, já que metade dos 100 assentos da casa são ocupados por republicanos.
A dificuldade se tornou mais evidente em 26 de janeiro, quando o senador Rand Paul, do Partido Republicano, tentou anular o processo, alegando que seria inconstitucional julgar por impeachment um presidente que já encerrou seu mandato.
Ele perdeu a votação, mas por um placar de 55 a 45, o que demonstra que pelo menos 45 senadores estariam dispostos a liberar Trump da acusação.
Mas se for considerado culpado, uma segunda votação será realizada, para avaliar se ele perde seus direitos políticos.
Neste caso, apenas uma maioria simples é necessária. Se isso acontecer, ele também pode perder muitos dos benefícios concedidos a ex-presidentes, que incluem uma pensão vitalícia, uma verba anual para viagens e para a manutenção de um escritório e uma equipe.
A proteção vitalícia pelo Serviço Secreto é mantida.
Outros presidentes
Até hoje, apenas dois presidentes já haviam tido impeachment aprovado na Câmara na história dos Estados Unidos, mas Trump foi o primeiro a passar pelo processo enquanto tentava se reeleger ao cargo e também o primeiro a ter dois processos aprovados.
Antes dele, Andrew Johnson e Bill Clinton tiveram seus processos de impeachment aprovados pela Câmara, mas ambos foram absolvidos pelo Senado e não perderam o cargo.
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Bill Clinton também foi condenado pela Câmara, mas inocentado pelo Senado — Foto: Jonathan Ernst/Reuters
Richard Nixon estava prestes a enfrentar um processo também, mas renunciou antes que a Câmara pudesse realizar a votação.
A primeira tentativa de impeachment contra Andrew Johnson – por tentar afastar seu Secretário da Guerra, Edwin M. Stanton, sem consentimento do Congresso – aconteceu em dezembro de 1867, mas não foi aprovada, e a segunda, que conseguiu os votos necessários, aconteceu em 24 de fevereiro de 1868.
Já Bill Clinton foi acusado por perjúrio e obstrução de justiça, ligados ao relacionamento do então presidente com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Ele foi condenado pela Câmara em 8 de outubro de 1998, mas inocentado pelo Senado em fevereiro de 1999, após um mês de julgamento.
No caso de Nixon, ele enfrentaria acusações de obstrução da justiça, abuso de poder e desrespeito ao Congresso durante o escândalo Watergate. Mas, em 9 de agosto de 1974, antes que a Câmara pudesse votar seu impeachment, ele renunciou à presidência.